Há muito tempo atrás havia um pastor que vivia numa pequena aldeia e que tinha por único companheiro um fiel cachorro que o acompanhava em todas as andanças e, principalmente, nas longas noites de solidão do jovem pastor. Pressentindo a inquietação do dono, deitava-se aos seus pés quieto. A inquietação do pastor devia-se às muralhas da serra que via ao fundo, e que o faziam perguntar-se o que haveria para além destas. E assim passava muitas noites, refletindo sobre o caso.
Numa noite, em que se julgava acordado, foi até si uma uma estrela em sonhos, e que lhe segredou que guiaria o jovem até ao objeto dos seus sonhos.
Maior se tornou a inquietação do jovem pastor depois de acordar, e dirigindo o seu olhar para os céus, procurou em vão a sua estrela.
Os dias passavam-se e nas noites que se seguiam, a estrela visitava-o. A inquietação do pastor aumentava. E a frustração, pois todas as estrelas diferentes que de entre as iguais lhe apareciam no céu escuro, nenhuma era a sua. No entanto, era óbvio que a estrela desafiava-o.
Dessa forma, numa noite, resolveu-se. Chamou o seu fiel companheiro e partiu. O cão ladrou, feliz pela nova atitude do dono, que em vez de suspiros, havia determinação no olhar. Sorriram e encolheram os ombros perante a empresa que se desenhava à sua frente, pois iam sem nada, com a fome e o frio da morte à sua espera. Sem nada, com exceção de toda a riqueza que possuíam: a fé, a vida e uma estrela.
Foram muitos os anos que o pastor caminhou, tendo entretanto o cão envelhecido e morrido, ficando agora como companheira do viajante apenas a estrela, que lhe aparecia sempre a incitá-lo. A serra sempre adiante, e a estrela sempre ali, à mesma distância.
Passou todas as fomes e frios que os velhos lhe tinham vaticinado. Atravessou rios, galgou campos verdes e campos ressequidos, caminhou sobre rochedos escarpados, passou dentro de cidades cheias de muros e gente, mas a montanha dos seus desejos nunca a baniu do coração. A juventude já o havia deixado há muito quando finalmente alcançou a muralha escarpada que chamava o seu nome quando o pastor ainda um infante era. Com esforço, e lentamente subiu, e subiu até ao topo da serra onde finalmente conseguiu largar o maior desejo do seu coração, ficando dessa forma em paz e sem desejo a inquietá-lo. O horizonte que se estendia à sua frente era de tal forma tão maravilhoso, o sentimento de liberdade tão grandioso, que no seu interior o pastor cantava o hino de louvor que era idêntico ao vento que uivava por entre os penhascos rochosos. Finalmente, o velho pastor instalou-se no cimo da serra, junto da sua estrela, passando esta agora a ser a companhia das suas noites, que o ouvia pacientemente, nas suas conversas em que falava de tudo e de nada. Um dia, no entanto, houve que o rei do mundo ouviu falar daquele pastor e da sua estrela maravilhosa. Decidiu-se então, enviou um emissário à serra, daria tudo o que o pastor quisesse em troca dessa estrela. O pastor ouviu com atenção a proposta do rei, e olhou em volta, tudo eram pedras e rochedos. Tinha como morada uma cabana simples de rocha coberta de colmo e como refeição uma côdea de pão negro e uma gamela de leite. Para o distrair tinha apenas a paisagem tão igual e, no entanto, tão diferente, de qualquer outra do mundo. Como companhia, uma estrela que o acompanhava há anos, sempre silenciosa, sempre compreensiva, sempre imutável. Suave mas decididamente, voltou-se para o emissário do rei, e grato pela oferta, rejeitou todos os tesouros da terra, preferindo aquela amiga de luz ténue. Passaram-se anos em que o pastor continuou a viver o amanhã como o ontem, até que finalmente morreu. Foi enterrado debaixo de uma fraga e nessa noite, estranhamente a estrela, como numa despedida, ou talvez num choro, a estrela brilhou com uma luz mais intensa. Os pastores da serra deram conta desse brilho, pois também eles reconheciam aquela estrela entre tantas outras, pois haviam sido apresentados a ela pelo velho pastor que agora se encontrava entregue ao sono eterno. E como depois da partida do pastor continuou a estrela a guardar aquela serra que se erguia aos céus, esta passou a chamar-se Serra da Estrela. Fontes Texto: http://www.folclore-online.com/ Imagem: http://blog.interpass.com/ |