As Três Parábolas da Possessão, de Francisco Luís Parreira, com encenação de João Garcia Miguel, estreia-se esta quinta-feira no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, é uma peça a não perder, baseada no caso verídico ocorrido em Março de 2002, quando Shadi Tobasi armadilhado com uma bomba, rebentou consigo e com mais 15 pessoas num restaurante em Haifa.
Nessa mesma altura, Shadi Hamamreh e um cúmplice, igualmente carregados de explosivos, recusando cumprir as ordens de paragem da polícia israelita numa fronteira de acesso a Jeruralém, foram finalmente detidos por uma rajada de disparos. Pelo seu lado, o jovem palestiniano de 12 anos, Shadi Masoul, dirigiu-se para um posto de controlo à entrada de Jerusalém, também ele carregado com explosivos, mas, que por alguma razão não se detonaram.
Como no caso de Kaspar Hauser (criança que terá crescido isolada numa cela), compara João Garcia Miguel, também Shadi Masoul foi transformando o seu relato da situação ao longo dos anos. Primeiro, declarou que invadido por pensamentos “nele mesmo, na família, na escola, nos amigos, não se explodiu”. “É o depoimento mais possuído e afectado”, classifica o encenador, mas nos anos seguintes torna-se evidente que “está a construir uma teoria sobre o que aconteceu e ficamos sem perceber se foi uma falta de coragem do momento ou um problema técnico”. “É quase um estado de possessão que o leva a reiniciar-se.”
De facto, Três Parábolas da Possessão insiste na ideia de começos sistemáticos que, como novas oportunidades de nascer, se apresentam como recorrentes negações da morte.
Teatro Nacional D. Maria II
Sala Estúdio
2 a 26 de Abril
4ªs feiras - 19h15
5ªs feiras a sábado - 21h15
Domingos - 16h15