O colonialismo não é certamente algo que pertence ao passado, pois este moldou a mentalidade de gerações, culturas, provocou o nascimento de novos pensares, de novos conceitos. Foi verdade para muitos europeus e foi certamente verdade para Portugal.
Quando agora se fala em Portugal, pensa-se num pequeno país à beira da Europa, com dois arquipélagos, mas não há muitas décadas atrás, era visto como algo de muito mais vasto que abrangia vários continentes e que ainda se encontra no pensar natural das gerações mais velhas.
Mas desengane-se quem pensar que só as gerações mais velhas foram influenciadas por este fenómeno, também as mais novas, filhas de colonos, e em contacto com estes.
Hoje o intercâmbio cultural, económico e social é uma realidade entre os países colonizadores e os colonizados, tentam-se sarar feridas e tenta-se descobrir verdades. O tempo passa e os corações acalmam-se e com isso vem um reflectir mais sóbrio e incisivo.
Nesse sentido o livro "Do colonialismo como Nosso Impensado", de Eduardo Lourenço, vem tentar fazer uma amostragem da realidade do colonialismo, não só como um acontecimento trágico, mas como algo que foi muito para além disso, como uma aventura que cobriu séculos e que se tenta apagar.
«Deste naufrágio de uma raça toda a gente se lembra, excepto os portugueses. Das epopeias que perduram neste país tão folclórico nem uma página o relembra. A História trágico-marítima é a dos portugueses devorados pelo mar e pelos autóctones. Este espantoso silêncio esconde a aventura colonial, a mais pura de toda a história. Tão pura que hesitamos chamá-la colonialista.»